Escândalo no atletismo: Wada pode se voltar agora para Quênia e Etiópia

Empresário de atletas que informou a IAAF sobre doping pede investigações na África

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O escândalo mundial de uma rede de doping na Rússia, com a conivência das autoridades antidopagem e até do Ministério do Esporte daquele país, que está sacudindo o atletismo e o esporte mundias, poderá se mover do Leste da Europa para a África Oriental. De acordo com Andrey Baranov, que havia enviado depoimento assinado à IAAF (Federação Internacional de Atletismo), em abril de 2014, se a Agência Mundial Antidoping (Wada em inglês) realmente quer a verdade não deve se prender à Rússia.
— Isso é errado. Deveria haver uma investigação semelhante em países como Quênia e Etiópia. Seus melhores atletas estão ganhando muito mais do que os russos. Contudo, os seus níveis de testes são muito limitados — declarou.
Empresário de atletas, Baranov havia feito denúncias antes mesmo do documentário divulgado pela TV alemã em dezembro e que foi o ponto de partida para as investigações da Wada. Em 2014, revelara que dirigentes russos teriam extorquido 450 mil euros de sua cliente Liliya Shobukhova. Ele pediu que a IAAF também seja alvo de investigações.
LABORATÓRIO FECHADO
Nesta segunda-feira, a Wada divulgou detalhado relatório de mais de 300 páginas sobre uma rede de doping na Rússia, cujo objetivo era o de fazer com que atletas daquele país ganhassem competições de atletismo (e possivelmente noutros esportes) a quaisquer custos. Dessa rede, que movimentaria milhões, fariam parte atletas, seus técnicos, médicos, dirigentes da Federação Russa, diretores de laboratórios, e até representantes da Rusada (Agência Antidopagem da Rússia), da IAAF e da própria Wada. Tudo acobertado pelo ministério russo do Esporte. A Wada solicitou à IAAF que suspenda o país de qualquer competição de atletismo, o que implicaria em sua exclusão desse esporte das Olimpíadas do Rio-2016. A IAAF vai se reunir para deliberar sobre o tema entre os dias 25 e 27, quando poderá adotar a medida proposta pela Wada. Ontem, foi fechado o laboratório antidoping de Moscou. No documento, a Wada chamou a atenção para a existência de um laboratório fantasma que fazia testes na capital russa.
Caso ocorra a punição à Russia, poderão ficar fora do megaevento carioca astros da grandeza de Yelena Isinbayeva, o maior nome da história feminina do salto com vara, e outras como Mariya Savinova, campeã olímpica dos 800m em Londres-2012, Ekaterina Poistogova, Anastasiya Bazdyreva (400m e 800 m), Kristina Ugarova (1.500 m) e Tatjana Myazina (800m). Uma das maiores potências do esporte, o país obteve em Londres-2012 o total de 81 medalhas (24 ouros, 25 pratas e 32 bronzes), sendo 18 no atletismo (8 ouros, 4 pratas e 5 bronzes). No Mundial de agosto, em Pequim, foram quatro medalhas: Sergey Shubenkov (110m com barreiras) e Maria Kuchina (salto em altura), ambos ouro; Denis Kudryavtsev (400m com barreiras), prata; e Anna Chicherova (salto em altura), bronze.
A Rússia, porém, pode não ser a única nação com comportamenteo suspeito. Especialistas em conquistar pódios em maratonas, meias-maratonas e provas de 5.000m e 10.000m, os quenianos e etíopes podem entrar na mira do radar da Wada. O presidente do Comitê Olímpico do Quênia, Kipchoge Keino, admiriu que a Wada poderá solicitar à IAAF que seu país venha a ser suspenso das competições de atletismo por quatro anos. Com isso, também ficaria fora da Rio-2016.
— Não é mais apenas uma ameaça — admitiu Keino, ouro nos 1.500m nas Olimpíadas do México, em 1968. — Eles acham que o Quênia está varrendo os casos de doping para baixo do tapete.
QUENIANOS TEMEROSOS
De acordo com agências internacionais de notícias, aquele país está receoso de que alguns de seus melhores atletas tenham “importado” técnicas de dopagem internacionais. Desde 2012, mais de 30 atletas quenianos foram suspensos ou banidos após testarem positivo para o uso de substâncias proibidas. Em agosto, por ocasião do Mundial de Pequim, os quenianos Koki Manunga, dos 400m, e Joyce Zakary, dos 400m com barreiras, foram suspenos após terem tido resultados positivos por uso de substâncias proibidas durante a competição. Estrela das maratonas, Rita Jeptoo foi suspensa por dois anos, pelo uso da substância proibida eritropoietina, que só é detectada por meio de exame de sangue.
Verdade que nem o Quênia nem a Etiópia foi citado no documento da Wada — que trata exclusivamente da realidade russa —, mas para a imprensa queniana, o Comitê Olímpico daquele país deveria se espelhar no que vem ocorrendo com os russos, para um aprendizado.
Em editorial divulgado nesta terça-feira, o jornal queniano “The Star” assim se manifestou: “Uma geração de atletas de todas as modalidades poderá ser perdida para o banimento. O Quênia falhou na tarefa de conter o doping.” Já o “Daily Nation” exortou atletas, técnicos, médicos e dirigentes a estudarem o relatório: “Devem usá-lo como uma experiência de aprendizagem, para agir no sentido de detectar, deter e punir o doping.”
No começo do relatório da Wada, o chefe da comissão independente, o canadense Richard Pound, fez grandes elogios aos delatores e infomrantes. Pound observou que para a comprovação de casos de doping, contam fatores como os testes propriamente ditos; investigações feitas por autoridades esportivas; a confissão por parte dos atletas; a análise dos passaportes biológicos dos atletas e a palavra dos informantes.
“Muitos deles já se doparam. Apesar das muitas pressões sobre esses participantes para que permaneçam em silêncio, alguns, porém, estão dispostos, por uma variedade de razões, a se aproximar com informações relativas a atividades do doping”, escreveu Pound, que acrescentou: “Os informantes, portanto, são um importante elemento na luta contra o doping no esporte.”
Baranov, por sua vez, disse acreditar que a Rússia merece a oportunidade de fazer sua própria reforma.
— Concordo 100% com Wada que as coisas têm de mudar. Mas a Rússia tem um novo presidente da federação e um novo treinador. Eles estão fazendo o seu melhor para limpar o esporte. Talvez não seja tão rápido como alguns gostariam, mas novas e ambiciosas pessoas estão em posições de poder — comentou.
Ao lembrar que Lamine Diack (ex-presidente da IAAF), está sendo alvo de investigação pela polícia, porque teria aceito suborno para acobertar casos de doping, Baranov pediu punições também nas altas esferas da entidade internacional.
— Por que ninguém está questionando a IAAF, para que seja suspensa até que prove que está limpa? — argumentou ele, que no ano passado revelara que dirigentes russos teriam extorquido 450 mil euros de sua cliente Liliya Shobukhova.
Um desses dirigentes seria o treinador russo Alexei Melnikov. Outros seriam Valentin Balakhnichev, o ex-tesoureiro da IAAF; o presidente da federação de atletismo russos, Gabriel Dollé; o ex-diretor do departamento anti-doping da IAAF, Habib Cissé; o consultor jurídico de Diack, seu filho Papa Massata Diack.


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